[Aqui, em minha casa, sou um ponto minúsculo no vasto universo onde me encontro]

Se eu penso “casa” e ao mesmo tempo penso “universo”, que dimensão tem “casa” e  que dimensão tem “universo”? Se eu penso “eu” e penso “casa”, a dimensão de “casa” torna-se maior daquela que era antes? A “casa” que pensei antes continua a ser a mesma “casa” que penso agora? E se eu disser “eu” e disser “universo” onde me encontro, onde estou? O universo expande-se em relação a mim e a “casa” deixa de existir, para “eu” passar a ocupar o seu lugar? Que espaço é esse que as coisas ocupam umas em relação às outras e que nos escapa entre os dedos? Se eu fechar os meus olhos e vir a minha mão sobre o “universo” ou sobre a “casa”, que dimensão tenho “eu”? E que dimensão têm aqueles que habitam esse “universo” que tenho agora sob a minha mão? Existem eles agora pela primeira vez ou já existiam antes quando chamei à casa “casa” e ao universo “universo”? Que dimensão ocupam eles, agora que vivem no universo que tenho sob a minha mão? Como posso eu saber o que sou, que tamanho tenho, que dimensão tem a casa ou o universo ou os outros, se nada permanece estável e o tempo continua a passar? Quem é aquele ponto minúsculo que vejo agora dentro do outro ponto dentro desta forma instável que tento tocar? Que pensa ele ao mastigar o seu snack, sentado na 4ª cadeira da 5ª fila? Pensará ele no seu momento futuro ou na dimensão do aperitivo perfeito e de como ele veio parar a sua casa e de como a sua casa veio parar a este universo? Considera ele, neste momento, no seu T0 minúsculo, que existem outros a compartilhar este universo como ele? Ou estará ele num imenso deserto que uma vez sonhou e onde começou a fazer as primeiras perguntas? Caminhará ele agora nesse deserto, onde nada se ouve a não ser o seu pensamento, abanonando-nos na “casa” que criou para nós? Existímos nós alguma vez para ele ou seremos apenas organismos para que ele continue a pensar? Continuaremos a existir agora que ele se distanciou tanto que dele já só conseguimos distinguir a sua silhueta ténue, distorcida pelo calor do deserto? Seremos apenas agentes que esperam o seu regresso, na porta fechada que se promete abrir a qualquer instante?