Song of Childhood

If I could be who you wanted
If I could be who you wanted 
all the time
all the time...
(Radiohead,  Fake Plastic Trees)

Há um banco (ou vários) dispostos para formarem um observatório perfeito. Todas as condições estão reunidas para começarmos a nossa tarefa de espectadores que testemunham o desfilar de um novo organismo vivo. No centro há uma espécie de lugar-viveiro de uma infância que desfila entre o acontecimento e a memória. Como epicentro uma coluna sonora imensa a emitir os sons desta experiência humana. Nada é estanque neste lugar: os espaços vão alternando as suas funções e as fronteiras entre os que agem e os que observam vão sendo desmanteladas. 
O que experienciamos quando observamos a infância, tornada paisagem? Como estamos enquanto a contemplamos, quase podendo tocar-lhe?  Quando contemplamos a infância que passou, que agora poderemos ter gerado, como a pensamos? Como a contamos ou descrevemos? Ao contá-la torna-se memória ou acontecimento? 
A infância funciona aqui como lugar que se presta à observação. Ao contrário da adolescência que se manifestava de forma evidente, sem eufemismos, cara-a-cara, em Kurt Cobain - there's no end in us (2012), esta nova paisagem (anterior à de Kurt Cobain) existe como redoma, como viveiro.
Quantas vezes não vimos já os adultos (acompanhantes das crianças) em posição de observadores perante uma manifestação infantil? Não será a arquitectura dos parques infantis um exemplo disso, com a arena lúdica ao centro e os bancos neutros ao seu redor? Mesmo quando nos deparamos com um cenário natural, por exemplo uma praia, vemos isso acontecer. Assim, o mar torna-se território lúdico e o areal observatório... para depois o areal (que antes era observatório) se tornar lugar de acção (onde se constroem agora estradas que vão dar a rotundas, pontes e túneis que terminam em castelos rodeados por pequenos lagos que vêm do mar) que se observa a partir da toalha (agora miradouro para esta nova maqueta que a criança habitará como se de um adulto se tratasse). 
Parece tratar-se de um mundo de plástico olhado de longe, pequeno simulacro feito de pequenas peças de lego, onde se podem ensaiar formas de vida que se movem entre o "agora" encontrado (ou reencontrado) e o tempo perdido. Nada é estanque no momento intervalar pelo qual este mundo vai desfilando: as coisas mudam de lugar constantemente, a acção não tem pausas. Nem mesmo o momento do sono se pode considerar como tal, pois nele habita a promessa de uma imaginação em marcha que não conseguimos vislumbrar mas, como que por impulso, tentamos desenhar na nossa mente. É um sonho crepuscular, não sabemos se aurora ou ocaso, se calmo ou inquietante - como um mistério lança-nos ora num conforto ora numa dúvida. O que sonha esta criança, que agora dorme, enquanto deixa escapar um sorriso que destoa do resto da sua figura? O que a fez rodar lentamente o seu corpo depois de, praticamente, ter estado imóvel durante o primeiro sono? Porque nos apresenta agora as suas costas, escondendo-nos o rosto onde até agora nos detínhamos? "Que calma" dissemos no início. "Que terror" dizemos quando o início se torna habitáculo do fim. Como somos cuidadosos perante este desfilar de sonhos escondidos. Neste silêncio, como que de cristal, podemos agora ouvir a canção da infância - Song of Childhood.