ANTES DE DESCOBRIR A GARGANTA (2009/2010)

FICHA TÉCNICA
texto original ricardo marques criação e interpretação nuno leão, ricardo marques  mecanismo cénico e desenho de luz ana ribeiro, nuno leão, ricardo marques som ricardo marques  fotografia e vídeo de cena andré uerba design de comunicação e ilustração elias taño produção e comunicação ana ribeiro, renata amaro

SINOPSE
ANTES DE DESCOBRIR A GARGANTA assume-se como um espectáculo-tentativa que procura, não encontrar uma resolução, mas uma perpetuação da manifestação teatral. O espectáculo não é concluído, este é apenas um excerto do trajecto que dispomos, não existe fim ou conclusão, é uma manifestação acerca do teatro e da condição do actor enquanto criador. O estar da entidade teatral vai-se esvaziando e enchendo. Enchendo-se de tudo e de nada. Esvaziando-se de si e de ninguém. Vai acumulando tentativas ao mesmo tempo que diminui as suas hipóteses: de ser, de comunicar. Pode ser uma imagem do fenómeno teatral, da bipolaridade de uma geração, de um super-herói com o seu lado comum e extraordinário. A sua existência pretende sempre ser, é sempre imagem de qualquer coisa, de um referente. É uma existência ficcionada, múltipla, fragmentada e não-editada. Simulacro do homem contemporâneo, de uma identidade estilhaçada pelo olhar dos outros. 

SOBRE O PROJECTO
ANTES DE DESCOBRIR A GARGANTA é a primeira parte da trilogia DELAY.
Esta trilogia serve o propósito de explorar o carácter inacabado da obra de arte.
Nesta primeira parte optamos pela classificação de um espectáculo-tentativa. Aqui exploramos a componente ilusória de  construção, pretendemos procurar e não encontrar uma resolução mas uma perpetuação da manifestação teatral. Não concluímos o espectáculo, este é apenas um excerto do trajecto de que dispomos, não existe fim ou conclusão, é uma manifestação acerca do teatro e da condição do criador.
Olhando para a ideia de que nunca se pode atingir um fim, encontraremos diferentes começos mas nunca uma espécie de conclusão. Trata-se de um constante recomeço. O que se propõe é essa mesma obsessão pela renovação. A incapacidade de permanecer no mesmo tempo e espaço, mesmo que seja o cénico. Apoiamo-nos na hipótese avançada por Baudrillard, colocando em confronto constante o tempo/espaço real e o tempo/espaço virtual: “a extensão do virtual determina a desertificação sem precedentes do espaço real e de tudo o que nos cerca.” O que está em jogo é uma espécie de edição da realidade, a partir dos seus múltiplos fragmentos.
Através de diferentes mecanismos de gravação (vídeo e som), tentam-se registar as diferentes tentativas e recomeçar. As gravações servem sempre de apoio à construção seguinte, nunca são afastadas mas constituem-se como memórias, e embora estas sejam forjadas não deixam de ser memórias, pois o que as constitui não é o real ou o virtual mas as zonas onde se interseccionam. Neste aspecto, o espaço cénico transforma-se num estúdio onde se procuram diferentes formas de comunicar. Neste estúdio todos os mecanismos estão à mostra. Qualquer dispositivo está exposto como indicador da sua função, ele não pretende fabricar uma ficção para além de aquela em que o espectador quer acreditar.
O que surge como vídeo e som são também parcelas, excertos não lineares e não editados pelos intérpretes mas pelo próprio espectador. É, enfim, o espectador que deve seleccionar as memórias com que poderá ficar do espectáculo e, em última instância, criar todo o significado do mesmo. Interessa-nos esta visão/capacidade da criação artística: despoletar sentidos múltiplos, possibilitar a invenção da realidade e do homem, podendo a qualquer momento desligar-se de um controlo.
'ANTES DE DESCOBRIR A GARGANTA' parte da proposta de introdução de um texto de Ricardo Marques, de forma a construir uma narrativa não linear e não resolutiva, levantando questões artísticas e formais que se cruzam com as nossas enquanto criadores. É uma construção de várias tentativas de encenação que procuram, autonomamente, encontrar ecos no espectador. O olhar interpretativo do espectador dispõe-se a receber as diferentes formas de comunicação que estão a ser realizadas no espaço cénico; o espectador quer perceber o jogo que está a ser montado. Cabe-lhe fazer essa mesma montagem através dos elementos que são usados. Em ‘Antes de Descobrir a Garganta’ não é possível acreditar em estabilidades.

IMAGENS





 











TEASER

IMPRENSA

“Antes de descobrir a garganta”

“Antes de Descobrir a Garganta” foi um dos espectáculos que esteve presente no 14º Ciclo de Teatro Universitário da Beira Interior.
Por: Daniela Oliveira
Em: Quarta, 24 de Março de 2010 
O próprio público fazia parte do cenário do espectáculo alternativo que esteve presente no Teatro Cine da Covilhã no passado dia 18 de Março.
Com o texto original de Ricardo Marques, e criação do mesmo em conjunto com Nuno Leão, “Antes de Descobrir a Garganta” assumiu-se como um espectáculo-tentativa que procurou a perpetuação de uma manifestação teatral. Para explicar a forma como surgiu o excerto apresentado, Ricardo Marques disse que começou por “escrever espontaneamente, e apenas três páginas. Depois, e em consenso com o Nuno fui escrevendo mais e surgiu este espectáculo”. O actor refere ainda que “a nossa inspiração é o teatro e a maneira como o vemos”. Quando questionado acerca do porquê de fazer do público o próprio cenário, Ricardo Marques explica que “é mesmo para envolver as pessoas no espectáculo. Foi por isso que representamos esta peça inicialmente numa sala estúdio”.
Esta encenação reflectia o curto percurso que estes dois jovens actores percorreram até então. Nuno Leão explicou ainda que “nos nossos espectáculos não falamos muito da ideia de personagem. Aliás, tenho dúvidas se há ou não personagens, isso cabe ao público decidir”. O convite para que estes actores viessem ao Teatro Cine surgiu a partir da intervenção da presidente da Associação do Núcleo do TeatrUBI, Graça Faustino.
O espectáculo, que teve como ponto de partida a “ideia de ilusão da construção”, reflectiu no público sentimentos como “caos, desespero, estranheza e algo abstracto”, mencionou João Araújo, estudante de Bioquímica da UBI.
Ao quinto dia de espectáculos, Graça Faustino afirma que este 14º ciclo de teatro “tem um balanço bastante positivo”, referindo ainda que “as pessoas têm aderido bastante tanto às peças com lotação limitada como às outras”.